Revolta da Vacina
A
chamada Revolta
da Vacina ocorreu
de 10 a 16
de novembro de 1904 na
cidade do Rio
de Janeiro,
no Brasil1 .
O
início do período republicano no Brasil foi marcado por vários
conflitos e revoltas populares. O motivo que desencadeou isso foi a
campanha de vacinação obrigatória, imposta pelo governo federal,
contra a varíola.
A revolta popular
- "Tiros, gritaria, engarrafamento de trânsito, comércio fechado, transporte público assaltado e queimado, lampiões quebrados às pedradas, destruição de fachadas dos edifícios públicos e privados, árvores derrubadas: o povo do Rio de Janeiro se revolta contra o projeto de vacinação obrigatório proposto pelo sanitarista Oswaldo Cruz" (Gazeta de Notícias, 14 de novembro de 1904).
- Revolta Popular
A
campanha de vacinação obrigatória é colocada em prática em
novembro de 1904. Embora seu objetivo fosse positivo, ela foi
aplicada de forma autoritária e violenta. Em alguns casos, os
agentes sanitários invadiam as casas e vacinavam as pessoas à
força, provocando revolta nas pessoas. Essa recusa em ser vacinado
acontecia, pois grande parte das pessoas não conhecia o que era uma
vacina e tinham medo de seus efeitos.
A
resistência popular, quase um golpe militar, teve o apoio
de positivistas e
dos cadetes da Escola
Militar.
Os acontecimentos, que tiveram início no dia 10
de novembro de
1904, com uma manifestação estudantil, cresceram consideravelmente
no dia 12,
quando a passeata de manifestantes dirigia-se aoPalácio
do Catete,
sede do Governo Federal. A população estava alarmada. No domingo,
dia 13,
o centro do Rio de Janeiro transforma-se em campo de batalha: era a
rejeição popular à vacina contra
a varíola que
ficou conhecida como a Revolta
da Vacina,
mas que foi muito além do que isto.
Para
erradicar a varíola, o sanitarista Oswaldo
Cruz convenceu
o Congresso a aprovar a Lei
da Vacina Obrigatória (31
de Outubro de 1904),
que permitia que brigadas sanitárias, acompanhadas por policiais,
entrassem nas casas para aplicar a vacina à força.
A
população estava confusa e descontente. A cidade parecia em ruínas,
muitos perdiam suas casas e outros tantos tiveram seus lares
invadidos pelos mata-mosquitos, que agiam acompanhados por policiais.
Jornais da oposição criticavam a ação do governo e falavam de
supostos perigos causados pela vacina. Além disso, o boato de que a
vacina teria de ser aplicada nas "partes íntimas" do corpo
(as mulheres teriam que se despir diante dos vacinadores) agravou a
ira da população, que se rebelou.
A
aprovação da Lei da Vacina foi o estopim da revolta: no dia 5
de novembro,
a oposição criava a Liga
contra a Vacina Obrigatória.
Entre os dias 10 e 16
de novembro,
a cidade virou um campo de guerra. A população exaltada depredou
lojas, virou e incendiou bondes,
fez barricadas,
arrancou trilhos,
quebrou postes e
atacou as forças da polícia com
pedras, paus e pedaços de ferro. No dia 14,
os cadetes da Escola
Militar da Praia Vermelha também
se sublevaram contra as medidas baixadas pelo Governo Federal.
A
reação popular levou o governo a suspender a obrigatoriedade da
vacina e a declarar estado
de sítio (16
de Novembro).
A rebelião foi contida, deixando 30 mortos e 110 feridos. Centenas
de pessoas foram presas e, muitas delas, deportadas para o Acre.
Ao
reassumir o controle da situação, o processo de vacinação foi
reiniciado, tendo a varíola, em pouco tempo, sido erradicada da
capital.
Osvaldo Gonçalves Cruz
Osvaldo
Gonçalves Cruz
(São
Luiz do Paraitinga, 5
de agosto de 1872 — Petrópolis, 11
de fevereiro de 1917)
foi
um cientista, médico,bacteriologista, epidemiologista e sanitarista brasileiro.
Foi
o pioneiro no estudo das moléstias tropicais e da medicina
experimental no Brasil. Fundou em 1900 o Instituto
Soroterápico Nacional no
bairro de Manguinhos,
no Rio
de Janeiro,
transformado em Instituto
Oswaldo Cruz,
respeitado internacionalmente.
Biografia
Filho
de cariocas, nasceu no interior de São
Paulo.
Aos cinco anos, acompanhou a família no retorno ao Rio
de Janeiro.
Ingressou na Faculdade
de Medicina do Rio de Janeiro em 1887,
formando-se em 1892.
Casou-se aos 20 anos, com jovem de família rica. Em 1896,
estagiou durante três anos no Instituto
Pasteur,
emParis,
sendo discípulo de Émile
Roux,
seu diretor. Voltou ao Brasil em 1899 e
organizou o combate ao surto de peste
bubônica registrado
em Santos (SP)
e em outras cidades portuárias. Demonstrou que a epidemiaera
incontrolável sem o emprego do soro adequado.
Como a importação era demorada, propôs ao governo a instalação
de um instituto para fabricá-lo.
Diretor-geral
da Saúde Pública (1903),
nomeado por José
Joaquim Seabra,
Ministro da Justiça, e pelo Presidente Rodrigues
Alves,
coordenou as campanhas de erradicação da febre
amarela e
da varíola,
no Rio de Janeiro. A nomeação foi uma surpresa geral. Organizou os
batalhões de "mata-mosquitos", encarregados de eliminar os
focos dos insetos transmissores. Convenceu Rodrigues
Alves a
decretar a vacinação obrigatória,
o que provocou a rebelião de populares e da Escola
Militar (1904)
contra o que consideram uma invasão de suas casas e uma vacinação
forçada, o que ficou conhecido como Revolta
da Vacina.
A cidade era uma das mais sujas do mundo, pois dos boletins
sanitários da época se lê que a Saúde Pública em um mês
vistoriou 14.772 prédios, extinguiu 2.328 focos de larvas, limpou
2.091 calhas e telhados, 17.744 ralos e 28.200 tinas. Lavou 11.550
caixas automáticas e registos, 3.370 caixas d´água, 173 sarjetas,
retirando 6.559 baldes de lixo e dos quintais de casas e terrenos 36
carroças de lixo, gastando 1.901 litros de petróleo (são dados do
livro indicado abaixo, de Sales Guerra). Houve um momento em que foi
apontado como «inimigo do povo», nos jornais, nos discursos da
Câmara e do Senado, nas caricaturas e nas modinhas de Carnaval.
Houve uma revolta, tristemente célebre como a revolta do
«quebra-lampeão», em que todos foram quebrados pela fúria
popular, alimentada criminosamente durante meses pela demagogia de
fanáticos e ignorantes.
Premiado
no Congresso Internacional de Higiene e Demografia, em Berlim (1907),
deixou a Saúde Pública (1909).
Dirigiu
a campanha de erradicação da febre amarela em Belém
do Pará e
estudou as condições sanitárias do vale do rio
Amazonas e
da região onde seria construída a Estrada
de Ferro Madeira-Mamoré.
Em 1916,
ajudou a fundar a Academia
Brasileira de Ciências e,
no mesmo ano, assumiu a prefeitura de Petrópolis.
Doente, faleceu um ano depois, não tendo completado o seu mandato. O
mundo inteiro lamentou sua morte no dia, com mais de que um minuto de
silêncio[carece de
fontes].
Revolta
da Chibata
A Revolta
dos Marinheiros,
ainda conhecida como "Revolta
da Chibata",
foi um movimento de marinheiros da Marinha
do Brasil,
planejado por cerca de dois anos e que culminou com um motim que se
estendeu de 22 até 27
de novembro de 1910 na baía
de Guanabara,
no Rio
de Janeiro,
à época acapital
do país,
sob a liderança do marinheiro João
Cândido Felisberto.1
Na
ocasião rebelaram-se cerca de 2400 marinheiros contra a aplicação
de castigos físicos a eles impostos (as faltas graves eram punidas
com 25 chibatadas), ameaçando bombardear a cidade. Durante o
primeiro dia do motim foram mortos marinheiros infiéis ao movimento
e cinco oficiais que se recusaram a sair de bordo, entre eles o
comandante do Encouraçado
Minas Geraes, João
Batista das Neves.
Duas semanas depois de os rebeldes terem se rendido e terem desarmado
os navios, obtendo do governo um decreto de Anistia, eclodiu o que a
Marinha denomina de "segunda revolta". Em combate, num
arremedo de motim num dos navios que não aderiram à Revolta pelo
fim da Chibata, morreram mais um oficial e um marinheiro. Esta
"segunda revolta" desencadeou uma série de mortes de
marinheiros indefesos, ilhados, detidos em navios e em masmorras,
além da expulsão de dois mil marinheiros, atos amparados
pelo estado
de sítio que
a "segunda revolta" fez o Congresso
Brasileiro aprovar.
Antecedentes
Os
castigos físicos, abolidos na Marinha do Brasil um dia após
a Proclamação
da República (1889)3 ,
foram restabelecidos no ano seguinte (1890)
por um decreto nunca publicado no Diário
Oficial,
o qual, mesmo assim, foi tomado por base pela Marinha de Guerra,
estando nele previstas:
- "Para as faltas leves, prisão a ferro na solitária, por um a cinco dias, a pão e água; faltas leves repetidas, idem, por seis dias, no mínimo; faltas graves, vinte e cinco chibatadas, no mínimo."
- A Revolta pelo fim da Chibata
Foi
originalmente marcada para dez dias depois da posse do Presidente
eleito da República, Hermes
da Fonseca,
a ocorrer no dia 15
de Novembrode
1910. Entretanto, a punição aplicada ao marinheiro Marcelino
Rodrigues Menezes do Encouraçado
Minas Gerais,
precipitou o início da revolta. Por ter trazido cachaça para
bordo e, em seguida, ter ferido com uma navalha o
cabo que o delatou, o marinheiro Menezes foi punido, não com as
vinte e cinco chibatadas regulamentares, mas sim com duzentos e
cinquenta, na presença da tropa formada, ao som de tambores,
no dia 21 de Novembro. O exagero dessa punição, considerada
desumana, provocou uma indignação da tripulação3 muito
superior à que já vinha sentindo durante a conspiração da
revolta. Os comitês revolucionários decidiram que a tomada dos
navios se daria na noite do dia 22. A ideia não era matar oficiais,
mas rendê-los enquanto estivessem dormindo.2
Na baía
de Guanabara,
na noite de 22
de novembro de 1910,
os marinheiros do Minas Gerais amotinaram-se ao constatarem que o
comandante Batista das Neves havia retornado mais cedo do jantar
oferecido a bordo do navio francês Duguay-Trouin, onde tinha
combinado de passar toda a noite. Não queriam mais adiamentos.
Quando ele foi para sua câmara dormir, um marinheiro mais afoito
atacou o oficial de plantão, Álvaro Alberto, o que fez com que o
comandante voltasse de sua câmara para o convés. Batista das Neves
foi cercado pelos amotinados e intimado a deixar o navio.3O
marinheiro Bulhões aconselhou-o a abrigar-se, mas ele terá
respondido: "Eu
não saio de bordo".
Ao ferir um dos marinheiros, Batista das Neves foi atacado pelo
restante do grupo, e outro marinheiro, João José do Nascimento,
disparou contra ele, atingindo-o fatalmente na cabeça. Na sequência,
outros dois oficiais que acordaram e também foram para o convés, e
por não quererem se retirar do navio, foram assassinados. Enquanto
isso, o 2º tenente Álvaro
Alberto da Mota e Silva o
primeiro oficial gravemente ferido, com golpe de baioneta,
conseguiu alcançar o Encouraçado
São Paulonum
escaler e notificou os demais oficiais. Mas este navio não estava
ainda revoltado. Não havia sido dado o sinal combinado.3
Ao
final do descontrole dos marinheiros, do motim no encouraçado Minas
Geraes que atropelou os passos planejados da tomada pacífica dos
navios, com as mortes de 3 oficiais e 4 marinheiros, foi feita uma
assembleia no próprio navio para entregar a João Cândido
Felisberto o comando geral da esquadra rebelde. Até então, o chefe
das reuniões era Vitalino José Ferreira. João Cândido seria
somente o comandante do Minas Geraes. Mas os marujos precisavam de um
comandante-em-chefe, com bom trânsito entre os marinheiros e os
oficiais, que tinha disciplina e poderia encaminhar os passos
seguintes da revolta, como planejado.
Ao
sinal de canhão que informava que o encouraçado Minas
Geraes estava
sob controle dos marinheiros mais 6 navios de guerra aderiram ao
levante: os encouraçados São
Paulo (o
segundo maior navio da Armada à época) e Deodoro,
o cruzador Bahia,
e mais quatro embarcações menores ancoradas na baía no decorrer da
noite. No final, João Cândido preferiu reunir todos os marinheiros
em apenas 4 embarcações: Minas
Geraes, São
Paulo, Bahia e Deodoro.
No
Cruzador Bahia, um oficial e um marinheiro morreram. No São Paulo,
mais um oficial, totalizando neste dia 5 marinheiros e 5 oficiais
mortos em situação de combate, de enfrentamento armado. Este
enfrentamento se repetiria momentaneamente no dia 9 de Dezembro (ver
adiante), levando a 6 mortes de oficiais e 6 mortes de marinheiros,
em motins dentro dos navios da Marinha de Guerra.
Na
manhã seguinte, de (23
de novembro),
sob a liderança do marinheiro de primeira classe João
Cândido Felisberto e
com redação de outro marinheiro, possivelmente Francisco
Martins,
foi então emitido um ultimato no
qual ameaçavam abrir fogo sobre a então Capital Federal:
- "Não queremos a volta da chibata. Isso pedimos ao presidente da República e ao ministro da Marinha. Queremos a resposta já e já. Caso não a tenhamos, bombardearemos as cidades e os navios que não se revoltarem."
O
governo respondeu inicialmente por meios telegráficos que não
confabulava com revoltosos. João Cândido então ordenou tiros de
canhão sobre o Palácio
do Catete,
sede do Poder Executivo, e sobre a Câmara dos Deputados que, à
época, ficava na Rua da Misericórdia.
João
Cândido, diante da atitude do governo de negar-se às negociações,
comandou a esquadra, após dar os disparos para demonstrar que não
estava blefando, para posicioná-la na barra, fora da baía da
Guanabara, fora do alcance do fogo das fortalezas da barra, mas a uma
distância suficiente para atacar e destruir a cidade, se fosse
necessário.
Surpreendido
e sem capacidade de resposta, o governo, o Congresso e a Marinha
divergiam quanto à resposta, pois a subversão da hierarquia militar
é um dos principais crimes nas Forças Armadas. A população da
então Capital, num misto de medo e curiosidade, permaneceu em estado
de alerta, parte dela refugiando-se longe da costa enquanto outros se
dirigiram à orla para assistir ao bombardeamento ameaçado pelos
marinheiros.
Nessa
manhã do dia 23, o emissário do governo, o deputado federal e
capitão-de-mar-e-guerra José
Carlos de Carvalho esteve
a bordo do encouraçado São Paulo, onde lhe foi determinado que se
dirigisse ao Minas Geraes para falar com o líder da revolta, João
Cândido, dando-se assim início às negociações entre o governo e
os revoltosos.
José
Carlos de Carvalho levou para o Congresso a impressão que teve da
força dos marinheiros e um Manifesto com exigências, sendo a
principal o fim da chibata. O Manifesto, que tinha sido escrito
durante as reuniões preparatórias, citava todos os oficiais presos
nos navios e relacionava todos os navios sob o controle dos
marinheiros. Isso demonstra que os revoltosos acreditavam que
poderiam fazer a revolta sem mortes, e que a adesão à revolta seria
total, quando a realidade era diferente disso.
Os
navios que não aderiram à revolta, na maioria contratorpedeiros,
entraram em prontidão para torpedear os
revoltosos. No dia 25
de Novembro,
o então Ministro da Marinha, almiranteJoaquim
Marques Batista de Leão expediu
a ordem: "hostilize
com a máxima energia, metendo-os a pique sem medir sacrifícios."
No mesmo dia, entretanto, o Congresso Nacional aprovou a anistia para
os revoltosos. Há versões de que o encouraçado Deodoro chegou a
receber tiros dos contratorpedeiros, que logo cessaram fogo e
voltaram para a orla.
Quatro
dias depois do motim, a 26,
o governo do presidente Marechal Hermes
da Fonseca declarou
aceitar as reivindicações dos amotinados, abolindo os castigos
físicos e anistiando os revoltosos que se entregassem. Estes, então,
depuseram armas e entregaram as embarcações. Entretanto, dois dias
mais tarde, a 28,
foi feito um novo decreto, que permitia que fossem expulsos da
Marinha aqueles elementos "inconvenientes
à disciplina".
A chamada "segunda revolta"
Em 27
de novembro de
1910, o ministro Marques de Leão exigiu que os marinheiros dos
navios antes revoltosos (anistiados) entregassem todas as culatrinhas
dos canhões. Se a ideia era a volta à normalidade,2 não
havia porque os navios serem desarmados. Era o primeiro sinal de que
o Governo não confiava naqueles marinheiros, embora já anistados.
Na
imprensa, alguns jornais começam a condenar a fraqueza do Governo e
da Marinha ao concederem a Anistia aos revoltosos. Alguns oficiais de
alta patente davam declarações públicas no mesmo sentido.
Os
marinheiros não sentiam que a normalidade estava sendo restituída.
Obedeciam as ordens, mas percebiam o desgosto dos oficiais.
Surgiram
boatos, de fontes incertas, de que está sendo planejada uma "segunda
revolta", em meio a uma outra forte onda de boatos de que o
Exército iria se vingar dos marinheiros que puseram o governo de
joelhos.
A
Marinha exigiu que o líder João Cândido entregasse 25 nomes de
companheiros "inconvenientes à disciplina" para serem
expulsos pelo decreto que quebrou a anistia. O clima ficou tenso
entre os rebeldes que participaram das mortes dos oficiais e o líder
João Cândido.
No
dia 2
de dezembro foram
expulsos 16 marinheiros: oito marinheiros do Minas Geraes, entre eles
o assassino de Batistas das Neves, João José do Nascimento, e oito
marinheiros do navio São Paulo.
As
expulsões, as prisões, os boatos, as provocações só fizeram
piorar a difícil tarefa da volta à normalidade. Oficiais condenaram
na imprensa o perdão dado pelo governo a "matadores de
oficiais".2
Ainda
no dia 9
de dezembro,
os comandantes oficiais da Marinha, já com o comando restituído dos
navios anistiados, resolvem abandonar os marinheiros sozinhos. Os
marinheiros pedem que fiquem, mas eles acabarão deixando os navios
na manhãzinha do dia seguinte definitivamente.
No
mesmo dia 9, em meio a esta forte onda de boatos, isolados e
desorganizados, os fuzileiros navais (soldados com treinamento
especial para servir à Marinha) sublevaram-se na ilha
das Cobras,
sem qualquer exigência e nem qualquer relação com a Revolta da
Chibata. A única relação imaginável seria o fato de estarem ali
os marinheiros rebeldes que foram presos mesmo anistiados. Na manhã
seguinte, por comando do Governo, foram bombardeados os fuzileiros e
marinheiros da Ilha das Cobras durante todo o dia seguinte, mesmo
após hastearem a bandeira branca. Enquanto o bombardeio se dava no
dia 10, o Governo aprovava no Senado Federal o estado
de sítio (lei
marcial que permite julgamentos sumários, prisões, etc).2 De
trezentos revoltosos, sobreviveram pouco mais de uma centena. Vários
foram detidos nos calabouços da antiga Fortaleza
de São José da Ilha das Cobras.
No
Congresso, parlamentares levantaram a possibilidade de esta "segunda
revolta" ter sido encomendada, ou no mínimo fomentada pelo
Governo Federal (Presidente, Marinha, Exército e simpatizantes no
Congresso), pois foi o Governo o maior beneficiado, com o estado de
sítio, que não somente lhe permitiu excluir 2.000 marinheiros (eram
2379 os revoltados) e matar um número incerto mas estimado em duas
centenas de marinheiros, como também afastar os adversários
políticos, que ficaram a favor da Anistia dos marinheiros rebeldes,
como o candidato à presidência derrotado, Rui
Barbosa,
isolando-o em São Paulo.
Apesar
de se declarar contra a "segunda revolta", e até mesmo ter
atirado (graças a uma culatrinha de canhão que um dos marinheiros
havia escondido dos oficiais) contra os fuzileiros, companheiros seus
da Marinha, para provar lealdade ao Governo Federal que havia dado a
Anistia e garantido o fim da chibata, João Cândido também foi
preso e expulso da Marinha, sob a acusação de ter favorecido os
fuzileiros rebeldes. Entre os detidos na Ilha das Cobras, dezoito
foram recolhidos à cela n° 5, escavada na rocha viva. Ali foi
atirada cal virgem,
na véspera de Natal,
24 de Dezembro de 1910. Após vinte e quatro horas, estavam mortos
asfixados 16 homens; apenas João Cândido e o soldado naval João
Avelino, conhecido como "Pau de Lira" sobreviveram na cela
5. Numa outra cela morreram mais dois. Mais vindita aconteceu: cento
e cinco marinheiros foram desterrados para trabalhos forçados
nos seringais da Amazônia,
tendo sido onze destes fuzilados nesse
trânsito3 .
Além disso, testemunhas, entre elas João Cândido e Marcelino
Rodrigues(o chicoteado na véspera da revolta), demonstram que vários
marinheiros foram mortos nos quartéis e nas ruas. Sem contar o
massacre da Ilha das Cobras do dia 10, à qual não foi permitido o
acesso da Imprensa a partir do dia 10. Estima-se que havia na Ilha
300 presos (somando anteriores à Revolta e após 26 de Novembro, fim
da revolta e do decreto da anistia) e 300 fuzileiros navais. Quando
estalou a "segunda revolta", 350 fugiram entre a noite do
dia 9 e a manhã do dia 10. Destes 250 marinheiros e fuzileiros
restantes, houve notícia de 60 sobreviventes encontrados após o
cessar-fogo. Os números reais das mortes comandadas pelo governo,
exército e marinha, nas dependências do Estado nacional, rendidos,
nunca foram oficialmente divulgados. A estimativa de duas centenas é
bastante conservadora. Duzentos mortos e dois mil expulsos após a
revolta. Barbaridade que não se compara às 6 mortes de marinheiros
e 6 mortes de oficiais em situação de combate no dia 22 de Novembro
e no dia 09 de Dezembro. Matar homens amarrados, rendidos, por
vingança, realmente uma mancha na imagem da Marinha de 1910. Uma
época felizmente superada.
O Almirante
Negro,
como foi chamado pela imprensa, um dos sobreviventes à detenção na
ilha das Cobras, foi internado no Hospital dos Alienados em Abril
de 1911,
como louco e indigente. Ele e nove companheiros só seriam julgados e
absolvidos das acusações dois anos mais tarde, em 1
de dezembro de 1912.
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